domingo, 8 de dezembro de 2013

O SONHO DE WADJDA (2012)


Este filme não só é o primeiro filme produzido dentro da Arábia Saudita, como também o primeiro longa-metragem dirigido por uma mulher na história da Arábia Saudita.

Haifaa al-Mansour é o nome da poderosa.

Por incrível que pareça, o filme não pode ser exibido lá, pois a Arábia Saudita não dispõe de salas de cinema oficiais.

A Alemanha co-produziu o filme, comparecendo financeiramente, com ajuda das comissões de cinema de países como a Jordânia e Abu Dhabi e também do Sundance Institute e do Hubert Bals Fund, ligado ao Festival de Roterdã

Delicado, sem ser piegas, com um pé bem fincado na atualidade, Haifaa al-Mansour, que também assina o belo roteiro, dirige a garota Waad Mohammed, que estreia no cinema interpretando a garota Wadjda, de forma brilhante, trazendo-nos, ao mesmo tempo, uma história crua e sensível.

Através de Wadjda, uma garota de 12 anos que quer a todo custo uma bicicleta para apostar corrida com seu amigo, o garoto Abdullah, a diretora e roteirista Haifaa al-Mansour constrói um cenário que vai nos descortinando a opressão sofrida pelas mulheres naquele país.

Assim, vemos a mãe de Wadjda, interpretada pela bela atriz Reem Abdullah sofrendo porque não pode mais ter filhos e seu esposo, por mais que ambos se amem, deve ter um filho homem, o que autoriza a família dele a lhe buscar uma segunda esposa.

Somos inseridos no ambiente escolar de Wadjda, composto obviamente de forma exclusiva por mulheres, onde existem transgressões adolescentes, assim como na sociedade ocidental, mas, desde a diretora da escola, passando pelas professoras e as próprias meninas, existe, em regra, um pacto profundo com tudo aquilo que as oprime.

Podemos acompanhar, também, a questão do trabalho feminino, de sua locomoção, da forma como devem falar baixo ("sua voz é sua nudez, você quer que os homens a vejam?" ensina a professora na escola), as dações em casamento, quando ainda são muito jovens, o desejo feminino reprimido, a vaidade restrita às paredes da casa, o ciúme masculino...

Mas o centro de tudo é mostrado a partir do desejo da menina, e Wadjda quer uma bicicleta.

Diante da negativa em lhe darem uma, pois isto não é coisa para meninas, imagine! Wadjda, que já tem habilidades em juntar dinheiro, se inscreve num concurso promovido pela escola para meninas sobre o alcorão, cujo prêmio é uma quantia significativa que lhe permitiria comprar uma bicicleta.

Linda a cena em que seu amiguinho Abdullah a vê chorando e lhe diz: "eu te dou a minha bicicleta" ao que Wadjda responde: "mas ai eu não teria quem me acompanhasse!" - insistindo em ter a sua própria bicicleta.

Vejam bem que a questão aqui não é, absolutamente a falta de dinheiro para ter uma bicicleta, mas sim a proibição de que uma menina pedale pelas ruas, sob pena, inclusive, de cair, se machucar e perder o bem mais precioso de uma mulher, que é a sua virgindade (!).

O filme foi exibido e premiado em festivais como Veneza, Roterdã e Abu Dhabi.

O final, assim como o filme todo, é lindamente simples e reflexivo.

Eu recomendo que você assista!