domingo, 17 de fevereiro de 2013

THE SESSIONS (2012)

Poema de amor para ninguém especial

(Mark O'Brien)

“Deixe-me tocá-la com minhas palavras,
Pois minhas mãos
Quedam inertes como luvas vazias
Deixe minhas palavras alisarem seus cabelos
Escorrerem por suas costas e roçarem sua barriga
Pois minhas mãos
Leves e livres como tijolos
Ignoram meus desejos e se recusam teimosamente
A empreender até meus impulsos mais silenciosos
Deixe minhas palavras entrar em sua mente
Carregando tochas
Admita-as de boa vontade em seu ser
Para que elas possam acaricia-la gentilmente
Por dentro”.

Realmente a Academia está fora de si por não ter indicado The Sessions ao Oscar 2013. Talvez porque o filme seja tão bom, que nem parece um filme americano.

The Sessions venceu prêmios do público e do júri no Festival de Sundance 2012, além de ter sido exibido no Festival de Toronto, e é baseado na história real de Mark O'Brien, uma sensível e poética alma que passa a maior parte de sua vida dentro de um pulmão de aço, por ter contraído poliomielite na infância e ter perdido os movimentos corporais, exceto os da cabeça.

O ator John Hawkes dá vida majestosa ao personagem Mark O'Brien, que quer amar, a despeito de tudo, quer amar!

A figura do terapeuta, ou o arquétipo grego do Hierofante, está o tempo todo presente no filme, através do padre Brendan, vivido por William H. Macy, com quem O'Brien confessa suas necessidades de conhecer o amor carnal e, mais tarde, após visitar uma terapeuta sexual, na pessoa de Cheryl Cohen Greene, a “substituta” interpretada com muita sensibilidade por Helen Hunt.

A “substituta” é uma especialista em exercícios de consciência corporal, que O'Brien contrata para lhe indicar os caminhos do sexo. Há um número limitado de seis sessões, e o que acontece nesse período é simplesmente lindo, leve, mágico e encantador, apesar de toda a densidade do que ali se está a buscar.

Assinado por  Ben Lewin, o filme é baseado num artigo escrito pelo próprio O'Brien, “Se consultando com uma substituta”. Apesar de temática tão emotiva, não há tentativa de manipulação de nossas emoções e a música é algo assim sublime, com destaque para “Fine Wine Tasting for Two” de Brad Hatfield e “I Go All To Pieces” de Jeff Meegan. 

Assista se você acha que a vida é complicada! Assista se você estiver com medo de amar! Assista se você estiver com vontade de desistir! Assista...!

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O expresso discurso socialista em Lincoln, do Spielberg

Lincoln, para o telegrafista que, não se contendo, questiona se deverá mesmo enviar uma importante mensagem sua:

"Devo transmitir, senhor?"

Lincoln, para o jovem: "Você acha que escolhemos para nascer?"

O jovem, titubeante, responde: "Eu acho que não".

Lincoln, insiste, socratiza: "Estamos equipados para os tempos em que nascemos?"

O jovem responde: "Bem, eu não sei sobre mim mesmo. Você pode ser... Senhor. Equipado."

O didático Lincoln não desiste: "O que você acha?"

O jovem conclui: "Bem, eu sou um engenheiro. Eu acho que há máquinas, mas... Ninguém fez a instalação".

Lincoln segue: "Você é um engenheiro, deve saber sobre axiomas de Euclides e noções comuns".

O jovem responde: "Eu posso ter tido isso na escola, mas..." (com expressão de não me lembro).

Lincoln, então: "Eu nunca tive muita escolaridade, mas eu li Euclides, em um livro velho que peguei emprestado. Pouca coisa já tinha encontrado seu caminho aqui" (aponta para sua cabeça), "mas...Uma vez que aprendi, aprendido ficou".

"A primeira noção comum de Euclides é esta: 'Coisas que são iguais à mesma coisa também são iguais entre si'. Essa é uma regra do raciocínio matemático".

"É verdade porque funciona. Assim foi e assim sempre será".

"Em seu livro... Euclides diz que isto é 'Autoevidente'."

"Tá vendo? Aí está, até mesmo em um livro de 2 mil anos sobre lei mecânica: é uma verdade autoevidente que coisas que são iguais à mesma coisa também são iguais entre si".

"Começamos com a igualdade.

Essa é a origem, não é?

Esse equilíbrio, isso é... Isso é transparente.

Isso é justiça!"