domingo, 30 de dezembro de 2012

TROUBLE WITHE THE CURVE (CURVAS DA VIDA - 2012)


TROUBLE WITHE THE CURVE (CURVAS DA VIDA) Não é apenas mais um filme americano que fala de beisebol. É muito mais que isso! É um refrigério para a alma dentro do estilo americano de fazer cinema.

A atuação sempre bela de Clint Eastwood, que desta vez não dirige, mas se deixa dirigir por Robert Lorenz (com quem trabalha há muito tempo, só que pela primeira vez assina uma direção cinematográfica), na pele do solitário Gus, um olheiro de beisebol que está envelhecendo e perdendo a visão, é algo que, por si só, já vale o filme.

Gus perdeu a esposa num acidente, quando a filha, Mickey, tinha apenas 6 anos de idade e a criou no mundo do beisebol.

Mickey, vivida por Amy Adams numa interpretação sem maiores brilhantismos, é advogada e espera uma resposta sobre ter sido escolhida para ser sócia da firma em que trabalha, quando recebe o pedido do chefe e amigo de seu pai, Klein, interpretado por John Goodman, para que o auxilie no trabalho, uma vez que está sob forte pressão para substituí-lo por outro, mais jovem.

Entre a tentação de abandonar o pai, como abandonada por ele se sentiu, Mickey, apesar de seu perfil workaholic, deixa as coisas no escritório pegando fogo e vai em auxílio do pai.

O que se passa a partir daí, são cenas de puro sentimento familiar, onde se redescobre o perdão, o amor e, a partir dai, para Mickey vem a disponibilidade emocional que lhe permite romper com o vínculo de autoafirmação, que tinha, com a advocacia, descobrindo sua vocação para as coisas do beisebol e iniciando um relacionamento amoroso com Johnny, na pele do ator Justin Timberlake, um ex arremessador descoberto por Gus, que, lesionado, está atuando como olheiro dos Red Sox.

Duas cenas muito lindas ficam a cargo de Mickey e Johnny: uma, quando os dois estão num bar e ela o convida para dançar clogging, uma dança muito louca das montanhas, e, a outra, quando ele a convida para um banho de rio a noite e ambos se beijam pela primeira vez. Duas cenas de inocência, emolduradas pela pureza da fotografia de Tom Stern, também antigo companheiro de trabalho de Clint Eastwood.

Não espere um filme brilhante ou recheado de emoções fortes, por vezes um tanto clichê, a ponto de ser concluído por Robert Lorenz subindo o plano sobre Clint Eastwood após a linda cena de beijo entre Mickey e Johnny, do jeitinho que americano adora, mas, mesmo assim, um filme doce, para ser assistido por toda a família numa tarde de domingo, como quem vai a um parque aquático sem grandes tobogãs, mas com águas azuis e muito refrescantes.

THE LADY (2011)

THE LADY (ALÉM DA LIBERDADE) é uma história real, roteirizada por Rebecca Frayn, através de relatos de jornalistas, a respeito da Birmânia e sua absurda e duradoura ditadura militar.

Com as lentes sobre a vida de Aung San Suu Kyi, vivida pela atriz Michelle Yeoh, o diretor Luc Besson vai nos conduzindo à parte substancial da situação Birmanesa, que há tempos vive em clima de horror e profunda violação de direitos humanos, diante de todo o mundo.

Aung San Suu Kyi era filha de um herói da Independência na Birmânia, mas deixara o país muito jovem, tendo se casado com o inglês Michael Aris, interpretado lindamente pelo ator David Thewlis, com quem teve dois filhos: Kim, vivido por Jonathan Raggett, e Alex, interpretado pelo ator Jonathan Woodhouse.

Tendo ido visitar a mãe, que tivera um AVC, Aung San Kyi acaba sendo proclamada como líder da resistência e, aceitando sua missão, finda por permanecer naquele país, conduzindo pacificamente os birmaneses, através de um movimento democrático de resistência.

Enfrentou retaliações e viu seus filhos e marido sendo cada vez mais impedidos de visita-la na Birmânia, até a proibição total. Viveu em prisão domiciliar durante anos, prisão essa que só foi revogada recentemente, em 2010.

Seu relacionamento familiar é uma linda história dentro da história. Seu marido, Michael Aris, jamais lhe cobrou que saísse da Birmânia e retornasse para o lar inglês. Ao contrário, além de dar conta, sozinho, dos dois jovens filhos, ainda movimentou o mundo acadêmico para que sua amada pudesse ser indicada ao Nobel da Paz, tudo no intuito de protegê-la da morte na mão dos impiedosos ditadores, que, de fato, só não a mataram para não criar um novo mártir, como fora seu pai.

Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1991, Aung San Suu Kyi ouviu a cerimônia de transmissão da entrega do prêmio em um radinho à pilha, da prisão domiciliar em que se encontrava na Birmânia, assegurada por homens fortemente armados. Seu adorável esposo e filhos foram receber o prêmio em nome dela.

Aung San Suu Kyi, mesmo fora da prisão domiciliar, não poderia sair da Birmânia, pois era certo que, se o fizesse, jamais teria permissão para retornar ao seu país e conduzir a luta na busca pelo processo democrático.

Mesmo quando seu amado Michael Aris lhe telefona contando que está com câncer, Aung San Suu Kyi não pode sair... Mesmo quando seu amado Michael Aris morre (no mesmo dia em que ele completaria 53 anos de idade, 27 de março de 1999) Aung San Suu Kyi não pode sair...

O papel do amado tem tanta grandeza neste filme, homem das ciências, homem despojado, um humanista que abre mão do amor de sua vida em prol de um povo, de uma nação, a qual, ele afirma, precisa muito mais de sua esposa do que ele, que o filme poderia tranquilamente chamar-se The Lord... Linda vida, triste vida, grande vida, nobre vida, foi a deste homem, Michael Aris... Merece um filme à parte.

(Aris nasceu em Havana, Cuba. Sua mãe, Josette, era a filha do Embaixador do Canadá, e seu pai Inglês, um oficial do Conselho Britânico. Durante 6 anos foi professor particular dos filhos da família real do Reino do Butão, Himalaia. Escreveu sobre o Butão e culturas tibetanas do Himalaia, além de ser autor de vários livros sobre o budismo nessas regiões. Foi acadêmico e professor de história asiática nos Colégios St John's e St Antony, em Oxford.)

sábado, 29 de dezembro de 2012

INTOUCHABLES (2012)


INTOUCHABLES é um filme despretensioso baseado numa história de amizade construída sobre diferenças.  

Duas vidas diametralmente opostas: o tetraplégico aristocrático Philippe Pozzo di Borgo, vivido por François Cluzet, e o imigrante senegalês Abdel Yasmin Sellou, cujo personagem, Driss, é interpretado por Omar Sy.
      
Driss tem uma tradicional vida de imigrante negro na França, foi criado pelos tios, que lhe buscaram entre os muitos irmãos no Senegal, cuja tia/mãe sofrida viúva pobre lhe declara no início do filme ter desistido dele, diante de seu comportamento desviante (tem passagem por roubo, não trabalha, só aparece em casa uma vez ou outra, etc.).

Ao se candidatar a empregos apenas para conseguir os carimbos que lhe habilitem ao recebimento de um benefício previdenciário (vejam, na França também tem, não é só no Brasil!), Driss acaba chamando a atenção do milionário Philippe, que lhe oferece a vaga de trabalho para ser seu cuidador.

Driss está muito mais interessado no carimbo do que em trabalhar, mas acaba seduzido pela possibilidade de morar e desfrutar daquela confortável mansão, onde teria um quarto luxuoso com uma banheira só para si, enquanto na casa em que morava com a numerosa família, era aquele furdúncio.

O que se vê a partir daí é uma bela história de como duas pessoas podem se influenciar e transformar uma a outra, enriquecendo-se e somando-se ao acrescentar o que é diferente, o que é do outro e pode ser meu também.

Orquestrado de forma leve e saborosa pelos diretores Olivier Nakache e Eric Toledano, o filme segue uma trajetória irretocável nos conduzindo a uma doce aventura onde o relacionamento humano é harmonizado pelas diferenças.

É a história de uma profunda amizade onde ambos se libertam e libertam um ao outro através do que têm de melhor em si a partir de um olhar essencial desprovido de qualquer expectativa ou preconceito em relação ao que o outro possa ter de mais estranho e diferente.

Assim, Philippe passa por experiências de experimentação da maconha, conhece a música dançante de Driss, e se submete a sensações eróticas com massagistas asiáticas, tudo através do querer-se estar a encargo do outro, do disponibilizar-se para confiar no outro.

Driss, igualmente, quando nos damos conta, a partir do exato momento em que Philippe o liberta de sua função para que possa resolver problemas familiares, conduzindo-o à tarefa de orientar um irmão adolescente, passa a se mostrar mais erudito, gostando de arte e, mais, demonstrando ao irmão menor que na vida é preciso ter princípios.

Não há preocupação com engajamento social em lutas pelo respeito às diferenças, nem tampouco com o que tenha que ser considerado politicamente correto nesse aspecto; o filme É e ponto.


Philippe liberta e faz crescer Driss na medida da confiança e do afeto que nele deposita. Quando se dá conta, está, ele mesmo Philippe, liberto e evoluído como pessoa, pelas mãos do próprio Driss. É uma sintonia perfeita, um círculo virtuoso que se retroalimenta numa história que nos deixa de alma leve e renovada.

Intouchables (considerado o filme mais rentável da história da França) surpreendentemente não recebeu a esperada indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013.