domingo, 30 de dezembro de 2012

TROUBLE WITHE THE CURVE (CURVAS DA VIDA - 2012)


TROUBLE WITHE THE CURVE (CURVAS DA VIDA) Não é apenas mais um filme americano que fala de beisebol. É muito mais que isso! É um refrigério para a alma dentro do estilo americano de fazer cinema.

A atuação sempre bela de Clint Eastwood, que desta vez não dirige, mas se deixa dirigir por Robert Lorenz (com quem trabalha há muito tempo, só que pela primeira vez assina uma direção cinematográfica), na pele do solitário Gus, um olheiro de beisebol que está envelhecendo e perdendo a visão, é algo que, por si só, já vale o filme.

Gus perdeu a esposa num acidente, quando a filha, Mickey, tinha apenas 6 anos de idade e a criou no mundo do beisebol.

Mickey, vivida por Amy Adams numa interpretação sem maiores brilhantismos, é advogada e espera uma resposta sobre ter sido escolhida para ser sócia da firma em que trabalha, quando recebe o pedido do chefe e amigo de seu pai, Klein, interpretado por John Goodman, para que o auxilie no trabalho, uma vez que está sob forte pressão para substituí-lo por outro, mais jovem.

Entre a tentação de abandonar o pai, como abandonada por ele se sentiu, Mickey, apesar de seu perfil workaholic, deixa as coisas no escritório pegando fogo e vai em auxílio do pai.

O que se passa a partir daí, são cenas de puro sentimento familiar, onde se redescobre o perdão, o amor e, a partir dai, para Mickey vem a disponibilidade emocional que lhe permite romper com o vínculo de autoafirmação, que tinha, com a advocacia, descobrindo sua vocação para as coisas do beisebol e iniciando um relacionamento amoroso com Johnny, na pele do ator Justin Timberlake, um ex arremessador descoberto por Gus, que, lesionado, está atuando como olheiro dos Red Sox.

Duas cenas muito lindas ficam a cargo de Mickey e Johnny: uma, quando os dois estão num bar e ela o convida para dançar clogging, uma dança muito louca das montanhas, e, a outra, quando ele a convida para um banho de rio a noite e ambos se beijam pela primeira vez. Duas cenas de inocência, emolduradas pela pureza da fotografia de Tom Stern, também antigo companheiro de trabalho de Clint Eastwood.

Não espere um filme brilhante ou recheado de emoções fortes, por vezes um tanto clichê, a ponto de ser concluído por Robert Lorenz subindo o plano sobre Clint Eastwood após a linda cena de beijo entre Mickey e Johnny, do jeitinho que americano adora, mas, mesmo assim, um filme doce, para ser assistido por toda a família numa tarde de domingo, como quem vai a um parque aquático sem grandes tobogãs, mas com águas azuis e muito refrescantes.

THE LADY (2011)

THE LADY (ALÉM DA LIBERDADE) é uma história real, roteirizada por Rebecca Frayn, através de relatos de jornalistas, a respeito da Birmânia e sua absurda e duradoura ditadura militar.

Com as lentes sobre a vida de Aung San Suu Kyi, vivida pela atriz Michelle Yeoh, o diretor Luc Besson vai nos conduzindo à parte substancial da situação Birmanesa, que há tempos vive em clima de horror e profunda violação de direitos humanos, diante de todo o mundo.

Aung San Suu Kyi era filha de um herói da Independência na Birmânia, mas deixara o país muito jovem, tendo se casado com o inglês Michael Aris, interpretado lindamente pelo ator David Thewlis, com quem teve dois filhos: Kim, vivido por Jonathan Raggett, e Alex, interpretado pelo ator Jonathan Woodhouse.

Tendo ido visitar a mãe, que tivera um AVC, Aung San Kyi acaba sendo proclamada como líder da resistência e, aceitando sua missão, finda por permanecer naquele país, conduzindo pacificamente os birmaneses, através de um movimento democrático de resistência.

Enfrentou retaliações e viu seus filhos e marido sendo cada vez mais impedidos de visita-la na Birmânia, até a proibição total. Viveu em prisão domiciliar durante anos, prisão essa que só foi revogada recentemente, em 2010.

Seu relacionamento familiar é uma linda história dentro da história. Seu marido, Michael Aris, jamais lhe cobrou que saísse da Birmânia e retornasse para o lar inglês. Ao contrário, além de dar conta, sozinho, dos dois jovens filhos, ainda movimentou o mundo acadêmico para que sua amada pudesse ser indicada ao Nobel da Paz, tudo no intuito de protegê-la da morte na mão dos impiedosos ditadores, que, de fato, só não a mataram para não criar um novo mártir, como fora seu pai.

Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1991, Aung San Suu Kyi ouviu a cerimônia de transmissão da entrega do prêmio em um radinho à pilha, da prisão domiciliar em que se encontrava na Birmânia, assegurada por homens fortemente armados. Seu adorável esposo e filhos foram receber o prêmio em nome dela.

Aung San Suu Kyi, mesmo fora da prisão domiciliar, não poderia sair da Birmânia, pois era certo que, se o fizesse, jamais teria permissão para retornar ao seu país e conduzir a luta na busca pelo processo democrático.

Mesmo quando seu amado Michael Aris lhe telefona contando que está com câncer, Aung San Suu Kyi não pode sair... Mesmo quando seu amado Michael Aris morre (no mesmo dia em que ele completaria 53 anos de idade, 27 de março de 1999) Aung San Suu Kyi não pode sair...

O papel do amado tem tanta grandeza neste filme, homem das ciências, homem despojado, um humanista que abre mão do amor de sua vida em prol de um povo, de uma nação, a qual, ele afirma, precisa muito mais de sua esposa do que ele, que o filme poderia tranquilamente chamar-se The Lord... Linda vida, triste vida, grande vida, nobre vida, foi a deste homem, Michael Aris... Merece um filme à parte.

(Aris nasceu em Havana, Cuba. Sua mãe, Josette, era a filha do Embaixador do Canadá, e seu pai Inglês, um oficial do Conselho Britânico. Durante 6 anos foi professor particular dos filhos da família real do Reino do Butão, Himalaia. Escreveu sobre o Butão e culturas tibetanas do Himalaia, além de ser autor de vários livros sobre o budismo nessas regiões. Foi acadêmico e professor de história asiática nos Colégios St John's e St Antony, em Oxford.)

sábado, 29 de dezembro de 2012

INTOUCHABLES (2012)


INTOUCHABLES é um filme despretensioso baseado numa história de amizade construída sobre diferenças.  

Duas vidas diametralmente opostas: o tetraplégico aristocrático Philippe Pozzo di Borgo, vivido por François Cluzet, e o imigrante senegalês Abdel Yasmin Sellou, cujo personagem, Driss, é interpretado por Omar Sy.
      
Driss tem uma tradicional vida de imigrante negro na França, foi criado pelos tios, que lhe buscaram entre os muitos irmãos no Senegal, cuja tia/mãe sofrida viúva pobre lhe declara no início do filme ter desistido dele, diante de seu comportamento desviante (tem passagem por roubo, não trabalha, só aparece em casa uma vez ou outra, etc.).

Ao se candidatar a empregos apenas para conseguir os carimbos que lhe habilitem ao recebimento de um benefício previdenciário (vejam, na França também tem, não é só no Brasil!), Driss acaba chamando a atenção do milionário Philippe, que lhe oferece a vaga de trabalho para ser seu cuidador.

Driss está muito mais interessado no carimbo do que em trabalhar, mas acaba seduzido pela possibilidade de morar e desfrutar daquela confortável mansão, onde teria um quarto luxuoso com uma banheira só para si, enquanto na casa em que morava com a numerosa família, era aquele furdúncio.

O que se vê a partir daí é uma bela história de como duas pessoas podem se influenciar e transformar uma a outra, enriquecendo-se e somando-se ao acrescentar o que é diferente, o que é do outro e pode ser meu também.

Orquestrado de forma leve e saborosa pelos diretores Olivier Nakache e Eric Toledano, o filme segue uma trajetória irretocável nos conduzindo a uma doce aventura onde o relacionamento humano é harmonizado pelas diferenças.

É a história de uma profunda amizade onde ambos se libertam e libertam um ao outro através do que têm de melhor em si a partir de um olhar essencial desprovido de qualquer expectativa ou preconceito em relação ao que o outro possa ter de mais estranho e diferente.

Assim, Philippe passa por experiências de experimentação da maconha, conhece a música dançante de Driss, e se submete a sensações eróticas com massagistas asiáticas, tudo através do querer-se estar a encargo do outro, do disponibilizar-se para confiar no outro.

Driss, igualmente, quando nos damos conta, a partir do exato momento em que Philippe o liberta de sua função para que possa resolver problemas familiares, conduzindo-o à tarefa de orientar um irmão adolescente, passa a se mostrar mais erudito, gostando de arte e, mais, demonstrando ao irmão menor que na vida é preciso ter princípios.

Não há preocupação com engajamento social em lutas pelo respeito às diferenças, nem tampouco com o que tenha que ser considerado politicamente correto nesse aspecto; o filme É e ponto.


Philippe liberta e faz crescer Driss na medida da confiança e do afeto que nele deposita. Quando se dá conta, está, ele mesmo Philippe, liberto e evoluído como pessoa, pelas mãos do próprio Driss. É uma sintonia perfeita, um círculo virtuoso que se retroalimenta numa história que nos deixa de alma leve e renovada.

Intouchables (considerado o filme mais rentável da história da França) surpreendentemente não recebeu a esperada indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013.




domingo, 18 de novembro de 2012

A Troca


Drama pungente, baseado em fatos reais, A TROCA (2008) conta a história de uma mãe solteira da Los Angeles de 1928, que uma tarde, ao chegar do trabalho, se depara com o desaparecimento de seu filho de 9 anos.

Com a direção sensibilíssima e sempre bonita de Clint Westwood. o filme vai deixando cair vários véus, numa temática que abrange muito mais do que envolveria somente a história de uma mãe corajosa na busca de seu filho desaparecido.

É muito mais do que isso! Fala de pessoas de bem, capazes de enfrentar os desmandos de poderosos, pessoas que não se calam e que, juntas, conseguem realizar transformações na comunidade em que estão inseridas.

Clint vai desvelando um novelo intrincado, que começa com a busca do filho pela mãe, Christine Collins, vivida pela belíssima Angelina Jolie, e você começa a se estranhar com a polícia no momento em que ela lhes pede ajuda e eles lhe avisam que só buscariam depois de 24 horas, uma vez que “esses meninos costumam sair e voltar sem motivo” e o efetivo policial não deveria ser destacado para atender o que poderia ser uma travessura de garoto, pois “tinha assuntos mais importantes para cuidar”.

Para surpresa, porém, logo no início do filme a mãe é avisada de que seu filho fora encontrado, abandonado em um bar por um vagabundo. A mãe vai até uma estação de trem para receber o menino e se depara com todo o efetivo policial em festa, com a cobertura da imprensa local, e o chefe de polícia lhe pedindo que os elogie à imprensa.

Porém, desce do trem um menino que não era seu filho, Walter Collins. Mesmo afirmando que aquele não era seu filho, a mãe é coagida pelos policiais a leva-lo para casa, ao argumento de que os meses em que passara desaparecido o teriam feito perder peso e mudar de feições. Além do mais o menino se dizia ser Walter Collins e dava como endereço de casa o endereço da mulher, além de se afirmar seu filho e chama-la de mamãe.

Em casa, Christine reúne argumentos aptos a provar que aquele não era seu filho, pois tinha 8 cm. a menos do que a marca que tinha na parede, da última vez em medira Walter e era circuncisado, coisa que seu filho não era.

A polícia, entretanto, insiste em dizer que o stress do desaparecimento fez o menino reduzir o crescimento e que a circuncisão deve ter sido escolha do homem que o raptara.  Mais que isso, começa a afirmar que o que a mulher quer é se ver livre da responsabilidade de criar o filho, para poder se divertir e deixa-lo por conta do Estado.

O Reverendo Briegleb, da igreja presbiteriana, vivido pelo sempre ótimo John Malkovich, tinha um programa de rádio onde denunciava a corrupção policial abertamente e procura por Christine para lhe alertar sobre o grau de desmandos da polícia de Los Angeles. 

Orientada e apoiada pelo reverendo, Christine reúne provas escritas do dentista e da professora de Walter e procura a imprensa para declarar o que está acontecendo, mas antes que possa prosseguir em seu intento, tem seu internamento psiquiátrico decretado pelo chefe de polícia.

No hospital psiquiátrico, Christine se depara com várias mulheres internadas, como ela, pelo código 12. Descobre, então, que este é o código para confinar no sanatório mulheres que ousaram denunciar um policial, desde a prostituta que apanhava de um deles e pôs a boca no trombone, até esposas agredidas e por ai vai.

Em paralelo, e por meio de um excelente roteiro, descortina-se a descoberta de um serial killer canadense que havia assassinado mais de 20 garotos no sítio onde morava. A foto de vários meninos desaparecidos é reconhecida por um jovem que fora coagido a ajudar o assassino, entre eles a foto de Walter Collins, do caso “solucionado pela polícia”.

Cresce a expectativa pela resolução do filme, o que está longe ainda de acontecer, pois antes do final, ainda podemos entrar em contato com sentimentos diversos, como a corruptibilidade e a honra, a esperança e a coragem, o amor materno, a solidariedade, enfim, de forma dramática Clint Westwood. vai nos conduzindo por essa história de luta, permeada pela dor íntima de uma mãe, que acaba por transformar toda a cidade em sua estrutura de consciência coletiva e transformação das instituições.

Christine é resgatada do hospício e, a seguir, consegue fazer com que todas as mulheres código 12 sejam retiradas de lá. O serial killer é encontrado, julgado e enforcado. Os policiais corruptos e o prefeito são exonerados. E, quando você pensa que o filme vai terminar, Clint volta a focar na busca da mãe pelo filho, que, de repente se descobre, pode estar vivo.

Destaque para cena em que Christine é autorizada a visitar o assassino na prisão (a primeira mulher em 30 anos que teve permissão para tanto) um dia antes de seu enforcamento, pois ele enviara um telegrama dizendo que queria contar a verdade sobre se Walter fora morto ou não. 

Ao final, você descobre que Clint só usou a história real de Christine para recheá-la de motivos sociais e humanos. Termina o filme e sobe o plano sobre Christine atravessando a rua, com a informação de que ela nunca deixou de procurar por seu filho. A gente não reencontra Walter Collins nesse filme, mas dá de cara com muitas verdades interessantes que, a despeito de terem se passado em 1928, estão, mais do que nunca, muito presentes hoje, nas sociedades contemporâneas.

Duas curiosidades: 
    1. Christine era supervisora de telefonistas e é muito engraçado ver como o modelo de call center que chegou aqui no Brasil nos anos 90, já funcionava exatamente assim nos EUA em 1928. Impagável!
      2.  Como americano gosta de terminar o filme subindo o plano, não?

Quer saber o que mais? A música é linda, cheia de sax e foi composta pelo próprio Clint Westwood. Gentem, esse cara tem que ter chulé!





domingo, 4 de novembro de 2012

Elefante Blanco (2012)


Leonardo Boff (@LeonardoBoff) já anunciara Elefante Blanco, tempos atrás, indicação que hoje foi reforçada por Wilson Ramos Filho.

Com Ricardo Darín, "Elefante Branco" tem como temática os problemas vividos pelos moradores de uma favela de Buenos Aires, a Villa Virgen, nos anos 70, num repressivo cenário de tráfico, miséria e abandono.

Focado nos usuários de crack, sobretudo nos muito jovens, o diretor Pablo Trapero nos conduz a uma angustiante incursão por Villa Virgen através dos personagens de Ricardo Darín e Jérémie Renier, que vivem Julián e Nicolas, dois teólogos da libertação tentando fazer algo em favor da comunidade local, e da assistente social Luciana, vivida por Martina Gusman.

Julián (Darín) comanda os trabalhos com o auxílio de Nicolas, o padre francês vivido pelo ator belga Jérémie Renier, que, recém-escapado de um massacre junto aos índios amazônicos, vive um momento de intensa crise deflagrada pelo trauma e as culpas por ter sobrevivido em meio a tantos mortos.

Libertários, os teólogos se confessam e aconselham mutuamente em suas crises de fé, e se percebe que Julián está doente e pretende preparar Nicolas para substituí-lo na difícil liderança dos trabalhos junto á comunidade.

É belo o romance em que o padre Nicolas se enreda com a assistente social Luciana (Martina Gusman), que alivia as dores de ambos, ainda que aquele não pretenda desistir de sua vocação.

O filme é dedicado ao padre Carlos Mugica, cujo assassinato nos anos 70 até hoje não teve os motivos desvendados às claras, e traz emocionantes passagens verídicas sobre a história de Mugica.

O destaque de Trapero vai para a capacidade do padre Julián, que mesmo cansado e por vezes até desesperançado, opta por realizar seu trabalho no combate à pobreza e à miséria social, enfrentando tudo e todos, desde o alto comando da própria igreja católica, até as pressões dos grupos de traficantes, que refletem muito no comportamento dos moradores locais, e, também às fortes pressões policiais.

Elefante Branco é uma construção imensa, que seria um hospital anos antes, mas que, abandonada, está em ruínas e serve de abrigo e acolhimento para jovens usuários de crack que são recebidos pela equipe de protagonistas, seja porque querem ajuda, seja porque ali se refugiam para tentar salvar-se da morte certa que os espera nos limites da Villa Virgen.

Entre tiroteios constantes, e as feridas sociais expostas por Trapero, o filme se desenrola numa toada nem tão atormentada, como em Carancho (2010), mas que traz a grata surpresa de ter na trilha sonora a irreverente música “Las cosas que no se tocan”, da banda argentina “Intoxicados”, ponto em que Trapero acertou a mão e até contrapesa com alguma pasmaceira que permeia o roteiro.
O final de Julián tem um gosto de Mugica. A vida segue para Nicolas e Luciana que, parece, continuarão firmes na ideologia da libertação.

Darín é sempre Darín, ainda que não esteja assim tão Darín em Elefante Blanco.

A última cena é tipicamente de Trapero, ou seja, de repente acaba e ai você fica muito feliz que ente a música dos “Intoxicados:


Me gustan las chicas, me gustan las drogas 
me gusta mi guitarra, James Brown y Madonna 
Me gustan los perros, me gusta mi estéreo 
me gusta la calle y algunas otras cosas 
pero lo que más me gusta 
son las cosas que no se tocan 
Me gusta el dinero para comprarme lo que quiero 
me gustan las visitas para matar el tiempo 
me gusta esta luz, me gusta esta sombra 
me gustan los grupos que no están de moda 
me gustan los autos, los trenes, los barcos 
me gusta que al que espero no tarde más de un rato 
me gusta el arroz, me gusta el puchero 
me gusta el amarillo, el rojo, el verde y el negro 
pero lo que más me gusta 
son las cosas que no se tocan 
Por eso me gusta el rock.
                               




domingo, 30 de setembro de 2012

Casa de Mi Padre


Imagine uma comédia mexicana satirizando os dramalhões mexicanos.

Protagonizado pelo anti-herói Armando, vivido por Will Ferrell, o filme ainda tem Gael García Bernal no elenco dirigido por Matt Piedmont.

Com alguma coisa que lembra Kill Bill no estilo, o filme é leve e rende boas e inteligentes risadas. Eu recomendo!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Dançando no Escuro

Lars Von Trier é minha paixão definitiva (e não me venha Karyn Cavalheiro dizer que ela é a número 1!)! Mas, como a Karyn comentou aqui outro dia que se apaixonou por ele em DANÇANDO NO ESCURO (2000), vai esse post em homenagem à amiga, que está se recuperando de uma rubéola.


Revisitando, esta obra prima,  é uma espécie de "musical antimusical"; um musical lúcido, com Björk interpretando Selma, a imigrante operária que, quase cega, junta dinheiro para operar os olhos de seu filho, a fim de livrá-lo da doença congênita que acometeu a todos os de sua família. 


Apaixonada e alucinada por musicais de Hollywood, Selma alterna o trabalho na fábrica com aulas de teatro, tentando esconder o declínio de sua visão. Porém, a sua vida muda radicalmente quando é acusada injustamente de um crime.


Como tudo em Lars, a carga psicológica é profunda e a alma humana exposta entre canções e a incrível interpretação de Björk e participações da grande Catherine Deneuve e do lendário Joel Grey (Cabaré).


Eu recomendo!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Coco Chanel & Igor Stravinsky


Coco Chanel & Igor Stravinsky (2009)

O perfume Chanel Nº. 5 tem o aroma do profundo amor vivido entre Coco e Igor.


O filme é impecável! Inicia por nos mostrar Coco (Anna Mouglalis), bem jovem e de cabelos longos, ainda vivendo seu amor por Boy Capel (Anatole Taubman), descobrindo Stravinsky (Mads Mikkelsen) em um concerto mal sucedido na França.


13 anos mais tarde, após a morte de Body em um desastre automobilístico, já de cabelos curtos, Coco o leva para morar em seu bangalô, juntamente com Katarina Stravinskaya (Elena Morozova), sua esposa doente, e os 4 filhos do casal, a fim de que pudesse criar sua música com tranquilidade, uma vez que ele se refugia na França, ao final da Revolução Russa.


A Sagração da Primavera está para ser executada, e o que se assiste no filme é toda a tensão criativa que a precede, toda a atração elétrica que há entre os dois, permeada pelo triângulo com a doente Katarina, os conceitos morais e as diferentes culturas trazidas em si pelos dois amantes num período pós guerra.


Uma história muito diferente de amor. Não pense que vai encontrar aqui o amor romântico. Não mesmo! O que se dá aqui é envolvimento de deuses criativos e amorais! Um amor carnal que transcendeu a carne e se tornou qualquer coisa de imortal e profano, cujos filhos foram deixados ao mundo por ambos: a música de Stravinsky e as criações de Chanel.


Destaque para Elena Morozova, que vive a erudita camponesa esposa de Stravinsky com uma convicção e uma dignidade medonhas!


Eu superhipermegarecomendo!

domingo, 17 de junho de 2012

Melancholia

Lars Von Trier é um signo psicanalítico ambulante e, como tudo nele tem um significado, eu me atreveria a dizer que não foi por acaso a escolha de Kiefer Sutherland, o corajoso Jack Bauer de 24 Horas, para viver o frágil e covarde personagem masculino neste filme (pensando bem, todos os filmes de Lars, têm um homem nessa posição).



Mas, sobre o filme, o êxtase começa com as cenas já, dos primeiros 10 minutos, orquestradas pela íntegra do prólogo da ópera Tristão e Isolda, de Richard Wagner. Vários quadros em câmera super lenta onde somos apresentados às irmãs Justine (Kirsten Dunst), a depressiva que não consegue encontrar alegria nem no dia de seu casamento, e Claire (Charlotte Gainsbourg), a obcecada mãe de um garotinho e dependente esposa do milionário John, apaixonado por astronomia, cujo papel secundário na trama é interpretado por Kiefer Sutherland.


Ao final do prólogo de Wagner, um cavalo cai em silêncio (isso mesmo! Um cavalo!) anunciando o fim do mundo.


Desenrola-se o enredo com a cerimonia de casamento de Justine, no castelo de John (que parece ser o mesmo cenário do último concerto de Herbert Von Karajan: http://www.youtube.com/watch?v=WPUT-LDo_nY).

 

Justine não está dando a mínima para o ritual minuciosamente planejado pela irmã Claire e fartamente patrocinado pelo cunhado John - Justine chega a se oferecer para colocar o sobrinho para dormir, somente para se afastar da festa e tirar uma soneca, depois, tomar um banho de banheira, entre outras coisas, que incluem até transar com o estagiário de publicidade que fora colocado em seu encalço pelo dono da agência, que dera de presente de casamento a Justine a promoção para o cargo de diretora.


Justine não liga a mínima para os rituais e cerimonias; para ela nada faz sentido e a assusta a obrigação que lhe impõem: ser feliz!


Seu casamento termina na mesma noite da cerimônia e começa a segunda parte do filme, onde se foca na passagem do planeta Melancholia muito próximo da terra.


Na segunda parte do filme, a certa altura, invertem-se os papéis: a depressiva Justine encontra uma incrível segurança na possibilidade do mundo se acabar e a controladora Claire mergulha no pânico, nervosismo e insegurança. Este é o grande trunfo do enredo e é difícil não querer premiar as duas como atrizes principais!


A personagem Justine é, declaradamente, o alterego de Lars Von Trier - teria sido vivida por Penelope Cruz, se ela não tivesse preferido filmar Piratas do caribe IV (bem feito pra ela!); o filme, aliás, surgiu de uma conversa entre Lars Von Trier e Penélope Cruz.


Lars declarou que sua moralidade foi influenciada pelo romantismo alemão, o que o colocou num posto especial da lista de marginalidade hollywoodiana.
A cena final nos coloca num estado tal, de arrebatamento e êxtase, nos integrando ao filme, fazendo com que dele passemos a fazer parte, tanto que... Não sei, mas acho que enquanto eu viver jamais conseguirei me desligar desse momento! O fim do mundo!


Aliás, tenho cá pra mim que meu amado Lars Von Trier me cochichou aos ouvidos, bem baixinho, e romanticamente: "Tânia, ouça, o fim do mundo é não encontrar alegria em viver... Ouça, o fim do mundo é a covardia masculina... Ouça..."


Listen: Open your ears, open your mind, open your heart...



Ophelia de John Everett Millais - imagem recorrente nos filmes de Lars e filmada ipsis literis, em Melancholia. 

sábado, 16 de junho de 2012

Jornada da Alma




Outro dia postei aqui The Dangerous Method (sobre o relacionamento entre Jung, Sabina Spielrein e Freud) e Lucimara Fernandes nos advertiu: “Para saberem melhor da relação de Sabine com Jung, é mais fidedigno o filme ‘Jornada da Alma’...".

PRENDIMI L’ANIMA (2002) de fato, é um filme focado na história da fantástica vida da genial russa Sabina Spielrein, e Jung acaba ocupando um afetivo e emocional plano de fundo (Freud nem aparece) nesta emocional obra do diretor italiano Roberto Faenza.

A atriz Emilia Fox (O Pianista), mais uma vez ofereceu uma espetacular atuação, marcante e impressionante! Difícil “se livrar” de Sabina Spielrein nos momentos seguintes ao final do filme.

O ator Iain Glen (A Dama de Ferro) construiu um Jung fascinante e humano em suas dúvidas e angústias que o aprisionavam num redemoinho de emoções.

Entretanto, Faenza parece ter se preocupado muito mais com a história romântica e aspectos biográficos de Sabina Spielrein, do que com questões psicanalíticas mais aprofundadas.

Destaque para a cena em que Jung e Sabina vão à Ópera e Jung não controla o choro na cena final de Tristão e Isolda; se retira para o saguão do teatro, seguido por Sabina, onde se senta para chorar. Sabina senta-se ao lado dele, pega suas mãos e lhe pergunta por que ele está tão frio. Jung, chorando de soluçar, responde: “Eu estava tão contente” e Sabina pergunta: “O que aconteceu?” e Jung exclama, arrebatado: “Maldita Felicidade!”

Ao fundo, ouve-se a melodia do último ato de Tristão e Isolda.

A trilha sonora, aliás, é conduzida para nos emocionar.  Tum Balalaika traduz a essência da fabulosa russa Sabina Spielrein, que chegou histérica até Jung; foi curada por ele e a ele curou; a ele amou e por ele foi amada, mas retirou-se da cena social da vida de Jung, constituiu sua própria família e retornou para a Rússia onde atuou como psicanalista e contribuiu enormemente na área do desenvolvimento infantil, além de ter passado por suas mãos ninguém menos que o pequeno tirano, Stalin.

As referências aos poetas russos Boris Pasternak e Mayakovsky também nos colocam em estado de emoção.

Lamentavelmente, Sabina Spielrein foi fuzilada com sua filha (há informações fora deste filme de que seriam 2 filhas) pelos nazistas em 1942.

O nada ortodoxo romance havido entre Jung e Sabina, só veio a público em 1977, com a localização de seu diário e de cartas trocadas entre ela, Jung e Freud.

O filme é belo, mas muito emotivo... No meu modo de sentir, DangerousMethod traz mais signos para desvendar. Mas é um belo filme, eu recomendo!