quinta-feira, 10 de setembro de 2015

“A câmera é uma arma muito forte!” – Emad Burnat (Cinco Câmeras Quebradas)

EMAD BURNAT, o cineasta palestino do documentário Cinco Câmeras Quebradas, indicado ao Oscar em 2013, conversou com blogueiros e jornalistas na manhã desta quinta-feira (10) no Sindijor, em Curitiba (Confira aqui).

Casado com uma brasileira, EMAD fala português com precisão e respondeu a questões sobre a mídia, os efeitos do sucesso de seu filme, a forma como produziu o documentário e o novo filme que está preparando.

Para EMAD, a mídia tem efeitos nefastos sobre a compreensão da questão palestina pelas pessoas no resto do mundo, uma vez que sempre dá apenas um lado da história e com foco na violência, não abordando a questão real, da luta do Povo Palestino, que na realidade está desarmado.

EMAD conta que essa foi a maior motivação para realizar o seu filme, pois viveu sob a ocupação toda sua vida e “queria mostrar a mundo inteiro como os palestinos vivem por dentro, o lado que o mundo não conhece”.

Foram mais de seis anos filmando as mesmas pessoas e a mesma história, conta EMAD, que filmou pessoas de sua família teve mais de mil horas de filme para editar.

Lembrando que EMAD comprou a primeira câmera quando o seu filho Gibril nasceu e passou a registrar tudo o que acontecia em sua vila natal, sob ocupação militar de Israel. 

O foco era na vida normal das pessoas, na rua, quando não tem exército e nem soldados. “O foco não era o muro; era a vida cotidiana”, diz EMAD, que mora em Bil’in na Cisjordânia – onde o exército está dentro da cidade -, contando com tranquilidade que nada mudou para sua família depois do filme.

Com simplicidade e serenidade, o cineasta de Cinco Câmeras quebradas diz que o mundo convencional do cinema não lhe encantou, pois é feito de muita mentira. “Eu queria descansar desse negócio de ir a festivais porque eu fui muito a eventos de cinema e descobri muita coisa feia por lá, muitas mentiras”, diz ele, afirmando que não saberia fazer cinema sem um olhar que não fosse tradutor da realidade”.

EMAD observa que na América Latina o filme não teve repercussão. Ele nos conta que o filme foi exibido somente quatro ou cinco vezes porque a América Latina não está interessada em contar a História da Palestina.

 “A Europa está mais interessada. Esse lado do mundo não está interessado no que está acontecendo no outro lado do mundo; aqui, se não tem um filme americano muito forte, eles não mostram no cinema”.

Por outro lado, Cinco Câmeras Quebradas foi exibido até na televisão na França, na Holanda, na Alemanha e até nos EUA.

EMAD BURNAT está preparando um novo documentário que dará continuidade à mesma história. “Aconteceu muita coisa pessoal nesses quatro anos que se passaram desde que terminei o primeiro”.

Em seu segundo filme, o cineasta falará sobre o que mudou na vida das pessoas que foram personagens reais do primeiro. “O foco vai ser o que aconteceu e o que mudou na minha vida, em especial”.

Gibril, seu filho, viajou sempre com ele para os festivais onde o filme foi exibido, mas logo se cansou, não queria viajar mais. O filme falará também sobre o que mudou na vida do filho com tudo isso.

O título do filme faz referência às cinco câmeras que o exército israelense inutilizou ao atingi-las com tiros. Numa dessas ocasiões o equipamento salvou a vida do diretor – a câmera deteve a bala atirada na direção da cabeça de EMAD.

Eu fiz filme com muito sofrimento, mas tem pessoas que fazem filme somente para aparecer”.

Do que EMAD talvez não tenha ainda se dado conta, é de que seu estilo de realismo cinematográfico, rechaçando a fantasia sem abrir mão da sensibilidade, certamente inaugura uma nova escola de cinema, daquela que advém da exigência histórica dos tempos e, ainda que fossem necessários muitos e maiores investimentos, a gente fica na torcida para que seu estilo possa ser difundido e multiplicado na Palestina, além de amplamente visualizado no resto do mundo, inclusive aqui, na América Latina.

A câmera é uma arma muito forte e o que é bom é que a câmera não mata pessoas”.

Cinco câmeras quebradas" é o primeiro filme palestino a concorrer a um Oscar; além de muito elogiado pela crítica, vem tendo uma trajetória de sucesso em todo o mundo. Em 2012, foi indicado para o Asian Pacific Screen Award e ganhou o prêmio de melhor documentário no Jerusalém Film Festival; o de melhor diretor de documentário no Sundance e também foi indicado para o Grande Prêmio do Júri desse festival, nos Estados Unidos, e o Busan Cinephile, do Busan International Film Festival, da Coreia. Em 2011 recebeu o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio Especial do Público no International Documentary Film Festival Amsterdam (IDFA), na Holanda. A. O. Scott, crítico do The New York Times, considerou-o uma “comovente e rigorosa obra de arte”. Ele tem razão, no documentário, com sensibilidade, Emad funde sua vida e a de sua família com a história da ocupação de Bil’in. É uma história comum à maioria dos palestinos.

Com legendas em português, o documentário Cinco Câmeras Quebradas terá exibição pública e gratuita em Curitiba na sexta-feira (11) às 19:30 no Cine Guarani, na Av. República Argentina, n°. 3.430, Bairro Portão (subsolo do Espaço Portão Cultural), seguida de debate com o cineasta.

Confira o trailer:





sábado, 21 de março de 2015

Una Pistola en cada Mano (2012)

Uma comédia inteligentíssima, com diálogos impecáveis, filmada em 2012 pelo espanhol Cesc Gay, - mas que só chegou ao Brasil em 2014.

Natural de Barcelona, Gay tem 47 anos e 10 filmes na carreira como diretor – e 11 como roteirista, com 26 premiações e outras 17 indicações. E o cara ainda assina o roteiro, que escreveu junto com Tomàs Aragay.

O filme foi rodado em Barcelona e traz um elenco tão poderoso que é impossível não ficar estupefata diante da química entre eles.

É humor inteligente, pra rir com riso franco; humor que molha a terra árida da gente, ressequida pelas comédias americoescatológicas com as quais, mesmo sem querer, a gente se depara vez em quando.

Trilha sonora deliciosa de Jordi Prats!

O filme tem foco no universo masculino (¿De qué hablan los hombres?) e retrata suas fragilidades, ditas e demonstradas por eles mesmos, mas, na maioria das vezes, reveladas por nós, mulheres.

Aliás, só as mulheres no filme têm nomes. Clara Segura é Elena, Candela Peña é Mamen, Leonor Watling é María e Cayetana Guillén Cuervo é Sara.

Aos homens foi dada apenas uma letra. Assim, Eduard Fernández é E., Leonardo Sbaraglia é J., Javier Cámara é S., Ricardo Darín é G., Luis Tosar é L., Eduardo Noriega é P., Alberto San Juan é A. e Jordi Mollà é M.,

Meio em duplas, esse maravilhoso elenco nos apresenta cinco histórias distintas, algumas sem a presença direta de personagens femininas, outras com, mas todas elas simplesmente deliciosas!

Por arremate, os homens se encontram no final.

Esses homens reais, frágeis, em crise, jovens ou de meia idade, apresentados em Una Pistola em Cada Mano, são simplesmente extraordinários no mundo de super homens em que vivo.

Esses homens reais, que não mais assim se mostram hoje, são simplesmente um fenômeno! Eu me apaixonei por todos eles e por cada um em particular.

Obrigada, Cesc Gay! Eu quero mais!

Confira o trailer:

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Ouça a trilha sonora do filme Selma


Selma (2015) - o filme que estranhamente não tem a predileção de Obama

Não consigo compreender como, com Selma no páreo, Obama pode declarar que seu filme predileto ao Oscar é Boyhood.

Ambientado na luta dos negros pelo direito ao voto nos EUA, o filme é simplesmente um primor de arrepiar, ainda mais se considerarmos que foi dirigido por uma mulher negra, Ava DuVernay.

O grande mérito do filme é nos apresentar heróis negros como protagonistas, sem a necessidade de salvadores brancos, a exemplo do premiadíssimo 12 Anos de Escravidão, que já critiquei aqui sobre isso.

Selma é a cinebiografia de  Martin Luther King (David Oyelowo) mostra sua campanha na cidade de Selma, no interior do conservador estado do Alabama, onde o movimento se engaja na luta pelo amplo direito ao voto para a população negra, sem restrições.

O presidente dos EUA, então, é o democrata Lyndon B. Johnson (Tom Wilkinson), e Martin Lutther King (ou Dr. King, como era chamado), organiza uma marcha saindo da hiper racista cidade de Selma até Montgomery, capital do Alabama.

E ai teremos a participação dos verdadeiros heróis negros, a começar pela esposa do Dr. King, Coretta Scott King (Carmen Ejojo), passando por Annie Lee Cooper (Oprah Winfrey), Andrew Young (André Holland), entre outros.

Como antagonistas, o filme nos apresenta  George Wallace, vivido pelo excelente Tim Roth, e o xerife Jim Clark (Stan Houston).

Ava DuVernay nos apresenta um drama vitorioso, sem foco em derrotas, tampouco apresentando a cena da morte de Luther King

O filme é um verdadeiro triunfo dos Direitos Humanos, mas Ava DuVernay não figura entre os brancos que concorrem ao Oscar de Melhor Direção e nem David Oyelowo foi indicado a Melhor Ator.

Assim, Selma concorre apenas aos prêmios de Melhor Filme e Melhor Canção. E neste último quesito tem sérias chances, pois sua trilha sonora é simplesmente um tesão (não achei outra palavra pra definir)!

A playlist pode ser conferida aqui

One Morning Soon –
House of the Rising Sun –
Easy Street – Sarah Vaughan
Walk With Me –
Precious Lord Take My Hand – Ledisi Anibade Young
Why – Am I Treated So Bad – The Staple Singers
Ole Man Trouble – Otis Redding
Masters of War – Odetta
KEEP ON PUSHING – The Impressions
Time Brings About a Change – The Soul Stirrers
I Got the New World In My View –
Don’t You Want My Lovin –
You Ain’t Got But One Life To Live –
Day-O –
Contemporary Focus – McCoy Tyner
Yesterday Was Hard On All Of Us – Fink
Bamboo Flute Blues – Yusef Lateef
Glory – John Legend
This Little Light of Mine/Freedom Now Chant/Come By Here – Medley –






domingo, 15 de fevereiro de 2015

Still Alice (2014)

A história de um genético e precoce Alzheimer, que acomete uma cientista do mundo da linguística, já rendeu a Julianne Moore o Golden Globe de Melhor Atriz e pode render-lhe, também, o Oscar da categoria, para o qual está indicada.
 
E não sem merecer!
 
O filme é baseado no romance homônimo de Lisa Genova, que conta a história de Alice Howland, professora de linguística da Universidade da Columbia, com uma saudável vida familiar, que é diagnosticada com um tipo raro de Alzheimer.
 
Os diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland oferecem uma direção singela e honesta, sobre um tema que não raro tem sido abordado pelo cinema, e o elenco é grandioso, com Alec Baldwin ,  Kristen Stewart e  Lydia Howland interpretando o marido e filhas de Alice. Porém, é Julianne Moore quem transforma o filme em algo realmente especial.

Julianne Moore já venceu quatro dos cinco prêmios para o qual foi indicada como melhor atriz por Still Alice, só faltando mesmo agora vencer o Oscar.

Casada com o Dr. John Howland (Alec Baldwin), com quem tem três filhos adultos, Alice busca alternativas para driblar a doença, como mulher inteligente que é, e vai nos mostrando de forma pungente, a forma como vivencia emocionalmente o drama que a assola.

Julianne Moore faz isso de forma tão intensa e, ao mesmo tempo, delicada, que nos toca profundamente. Assim, não é difícil se perceber em lágrimas durante o filme, mesmo inexistindo, no filme, qualquer  artifício emocional.

Destaque para a cena em que a professora Alice, já afastada de suas atividades acadêmicas por conta da doença, volta à academia, com um  pequeno discurso que levou três dias preparando, e recita o poema "A Arte de Perder", de Elizabeth Bishop.

Mas o que nos toca, sobremaneira, é o fato de uma linguista apaixonada pela Comunicação, ter que se render à algo para o qual ainda não encontramos a cura e que nos priva exatamente do que era mais caro a Alice: suas funções cognitivas.

Em um dado momento do filme, Alice confessa: "eu preferia ter câncer!"

A despeito de tamanha crueldade, que perpassa o drama, pela ironia de se ver acometida pela degeneração daquilo que lhe era mais caro, o que mais comove em Still Alice, é justamente o modo como ela utiliza sua inteligência até o final, até não poder mais, numa espécie de embate brutal, onde combatem na arena a doença e a inteligência humana.

E esse combate é interpretado com tamanha competência por Julianne Moore, em cada expressão, olhar, sorriso ou suspiro, que, em cada gesto de Alice a gente consegue sentir, apesar de tudo, o triunfo da capacidade humana em sobrepujar as perdas que nos são impostas.

Julianne Moore merece o Oscar!


A arte de perder
(Elizabeth Bishop)

 A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero, A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subsequente Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério 
 
Confira o trailer:
 
 
 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Leviathan (2014) - o filme russo indicado ao Oscar americano

Do diretor Andrey Zvyagintsev, Leviathan é o filme russo indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015.

E não sem razão! 

Apenas estou tentando concatenar minhas ideias para entender por que a academia americana escolheu uma crítica tão voraz ao Estado pós comunista para concorrer à estatueta, e tem crítico dizendo que já ganhou porque critica a Rússia (!).

Tenho cá minhas discordâncias, tanto em relação ao "já ganhou" quanto em relação ao "critica a Rússia".

Leviathan, na verdade, critica o Estado, na acepção ampla de "Estado Democrático de 'Direitos'"; e, ao fazer tal crítica, o faz em relação a TODOS os modelos atuais de Estado, e não realizando uma crítica pontual à própria Rússia, apenas.

Evidentemente que, sendo uma história que se passa na Rússia, a crítica se dá "a partir da" Rússia, mas não é difícil compreender que ela se espraia pelo mundo, em relação à noção de Estado construída, sobretudo, no ocidente.

É o que se vê numa Rússia onde a Igreja tem vez e voz no aconselhamento do prefeito corrupto de uma cidade, onde se passa a história, e o padre, ortodoxamente paramentado, explica ao prefeito que todo o poder vem de deus e que somente a força poderá preservar o poder dado por deus, portanto, aconselha o padre ao prefeito, não hesite em usar a força para preservar o poder nos teus domínios.

E o roteiro construído nos dá conta de um homem que sofre uma desapropriação estatal no lugar onde vive e traz um advogado para defendê-lo, ocasião em que começa sua derrocada. E, ai, o grande mérito do filme, que se utiliza de signos o tempo todo para se desenvolver como uma obra que merece mesmo ser premiada.

A primeira simbologia que se extrai, é a semelhança do protagonista com o personagem bíblico, , que perdeu tudo o que tinha.

Nicolay, ou Kolia (Aleksey Serebryakov) vive na região costeira do noroeste russo e os dramas que atravessa são demonstrados através de uma fotografia impecável, dentre elas, a que nos mostra o homem sentado próximo à carcaça de uma grande baleia.

Os 34 versículos do capítulo 41 do Livro de Jó, nos oferecem uma apavorante descrição do Leviathan, um terrível monstro marinho já referido no capítulo 4º: 


1.Poderias tu pescar o leviatã com linha e anzol? Ou atar-lhe a língua com uma corda?
2 Serias tu capaz de o prender com uma corda no nariz, ou furar-lhe as queixadas com uma escápula?
3 Porventura iria ele pedir-te que desistisses das tuas intenções e tentar brandamente fazer-te mudar de ideias?
4 Aceitaria alguma vez que fizesses dele teu escravo para toda a vida?
5 Farias tu dele um animalzinho domesticado, como um passarinho, que se cria numa gaiola, que darias às tuas filhinhas para brincarem?
6 Os teus companheiros de pesca vendê-lo-iam aos comerciantes, na lota?
7 A sua pele, poderia ela ser furada por ganchos, ou a cabeça presa por arpões?
8 Se lhe pusesses as mãos em cima, durante muito tempo haverias de te lembrar da luta que se seguiria, e nunca mais o farias outra vez!
9 Não. É absolutamente inútil tentar capturá-lo. Até só o pensar nisso aterroriza!
10 Não há ninguém que seja tão ousado, que se atreva a provocá-lo e muito menos a conquistá-lo. Pois se ninguém lhe pode resistir, quem poderia então erguer-se contra mim?
11 Nada recebi de ninguém. Tudo o que existe debaixo dos céus é meu.
12 Também quero fazer referência à tremenda força dos seus membros, e à sua enorme estrutura.
13 Quem poderia penetrar a sua pele, ou quem ousaria ficar ao alcance das suas goelas?
14 Quem jamais lhe abriu o focinho guarnecido como está de dentes terríveis?
15/17 As escamas sobrepostas que possui são o seu orgulho, são como uma proteção compacta, de tal forma que nem o ar lá penetra: nada ultrapassa aquela barreira.
18 Quando espirra, a luz do sol reflete-se sem cintilações, semelhantes a raios, por entre os vapores da alva.
19 Seus olhos brilham como faíscas. Sai-lhe fogo da boca.
20 O fumo brota das suas narinas, até parece uma panela fervendo com água, ou uma caldeira aquecida.
21 É verdade, a sua respiração bastaria para acender carvões — jorram-lhe chamas da boca.
22 A força enorme que tem no pescoço lança o terror por onde passa.
23 Tem uns músculos duros e firmes; nem se encontra nele carne flácida.
24 O seu coração é duro como uma rocha, é como uma mó, de moinho.
25 Quando se ergue, até os mais valentes têm medo, e ficam paralisados de terror.
26 Não há espada que o detenha, nem qualquer outra arma, seja lança, dardo ou flecha.
27  Ferro, para ele, é como palha, e o bronze, como madeira podre.
28 Não são setas que o fariam fugir. Pedras das fundas valem para ele tanto como estolho.
29 Uma tranca que lhe seja atirada, é perfeitamente inútil, e fica-se a rir das lanças projetadas na sua direção.
30 ventre, tem-no recoberto de escamas; espoja-se sobre o chão duro como sobre relva!
31 Quando se desloca deixa atrás de si um rasto de espuma. Agita violentamente os abismos dos oceanos.
32 Deixa atrás de si um sulco brilhante de espuma; poderia pensar-se que o mar gelou!
33 Não há nada mais tremendo, sobre a face da terra, que se lhe possa comparar. 
34 De todos os animais, é o mais altivo — é o monarca deles todos.


Como , Nicolay vai sendo despojado de tudo o que o cerca, mas aqui o grande inimigo é o Estado.

Thomas Hobbes se utilizou do mesmo símbolo em seu clássico “O Leviatã”, como analogia ao Poder do Estado autoritário, após a humanidade “assinar” o contrato social, abrindo mão do “estado de natureza” – caracterizado por um feroz egoísmo - e se colocando nos braços do Estado, momento em que nasce o chamado Estado Democrático de Direito.

É preciso que se compreendam estas duas alegorias, para bem situar-se em toda a rica simbologia oferecida por Leviathan.

Destaque para o modo caricato que retrata a misoginia e constante embriaguez dos homens, o tempo todo. Sim é a Rússia, mas é também uma forma de se anestesiar desse estado doloroso de coisas postas.

Em alguns momentos do filme, podemos ver críticas pontuais a muitos políticos russos, mas continuo afirmando que a Academia em nada se engrandecerá em dar o Oscar a Leviathan como uma espécie de revanche infantil. Aliás, o Direito Russo, pode-se ver no filme, é muito mais assemelhado ao brasileiro do que ao americano. Há referência, por exemplo ao Princípio da Presunção de Inocência e ao não valor da confissão como prova - o que inexiste no Direito Americano.

É a Rússia, mas poderia ser em qualquer outro lugar do mundo ocidental.

E quem poderá fugir do braço pesado do monstruoso Leviathan quando nos tem na mira como alvo?

(Repito mil vezes: a fotografia é um espetáculo à parte do filme. Deveria concorrer ao Oscar de Melhor Fotografia também! E ganharia!)

Confira o trailer: